sexta-feira, 27 de setembro de 2013

AS REGRAS DO JOGO

Imaginem um jogo de futebol. Uma final. As equipas entram em campo. Os laranjas, prevenidos, entram com capacetes de protecção e botas nazis. Os rosinhas, inseguros, apresentam-se com calções de fio dental , meias de vidro e botas de salto alto. O árbitro, oportunista e com equipamento cor de alfarroba, só quer sair dali vivo e com boa nota.
Aos cinco minutos de jogo, o ponta-de-lança laranja mete um golo com a mão. O árbitro diz que não viu. Os rosinhas abstêm-se violentamente e o golo é validado. Bola ao centro e segue o jogo.
Dez minutos passados, o ponta direita laranja, num off-side de quinze metros, faz o segundo golo. Os rosinhas abstêm-se violentamente. O árbitro diz que não viu. Bola ao centro, segue o jogo. 2-0.
À meia-hora, numa jogada a meio-campo, um médio rosinha rasga uma meia de vidro em contacto com uma botifarra nazi. O árbitro marca penalti contra os inseguros. Os rosinhas abstêm-se violentamente. O back direito dos laranjas, histérico, diz que ou marca ele o penalti ou sai de campo. Burburinho nas hostes. O árbitro intervém, conciliador, e consegue que seja feita a vontade ao back. Ufano e com gestos amaneirados, este corre para a bola e golo. É acarinhado por todos os colegas com umas palmadinhas no rabo e promovido a segundo ponta-de-lança. Bola ao centro e 3-0.
Já nos descontos, o fisioterapeuta dos laranjas, recém-chegado de Chicago, entra em campo e faz o 4-0. Os rosinhas protestam silenciosamente. O árbitro diz que não viu e apita para intervalo.
A segunda parte foi clonada da primeira e o resultado final de 8-0.
No fim do jogo, o Tribunal Desportivo, alertado por uns peles vermelhas que assistiram, no peão, ao desconcerto, anula o jogo.
E os intervenientes reagem, em conferências de imprensa. O árbitro: "Eu bem tinha avisado". O chefe dos inseguros: "O nosso comportamento exemplar em campo foi importante para esta decisão. E até vamos pedir uma indemnização para comprar meias de vidro novas". O Kapo dos laranjas: "O Tribunal Desportivo é uma força de bloqueio que não nos deixa ganhar. Seguimos em frente, de cabeça erguida, porque para trás mija a burra. Vamos recorrer para o Supremo Tribunal dos Mercados". 
Cá fora, em transe, um pele vermelha grita para um microfone que por ali anda em reportagem: "Gatunos!"

Nota: Abusiva será toda a tentativa de considerar a croniqueta como uma metáfora da vida política nacional. E quem o fizer, revela ser senhor de mente perversa e a pedir chuva.