Vai um paisano locomovendo-se lentamente nos passadiços da Fnac, tentando evitar encontros imediatos com os 'romances de amor' assinados (e assassinados) pelas vedetas televisivas e desviando-se de tudo o que a Salazar diz respeito e agora é tão do agrado dos nossos intelectuais 'fashion', e eis que uma capa tão bela quanto discreta lhe chama a atenção.
Ana Margarida de Carvalho - romance - Que Importa a Fúria do Mar - Teorema.
A contra-capa ("É um romance de estreia com uma maturidade literária invulgar") e as badanas ( "a autora é jornalista distinguida com sete dos mais prestigiados prémios de jornalismo") convidam-me a uma olhadela pelo miolo do livro.
Primeira reacção, deglutidas umas frases salteadas: Alto! Temos romance à séria e com prosa de primeira água.
E eis-me na bicha da caixa com o livro debaixo do braço (esquerdo!) e a urgência de leitura que sempre me assalta nestas alturas.
A leitura, pois, e o encantamento. Livro sem concessões a slogans estafados ou a formas fáceis, com notável riqueza vocabular, lembra, por vezes, o melhor de Almeida Faria e de Mário de Carvalho. Coincido com Miguel Real ('JL'): "Um raro romance - para mais sendo uma estreia literária - tão violento quanto lírico, tão surpreendente quanto sereno".
Sugerir a sua leitura é pouco. Mais adequado será catalogá-lo como de leitura obrigatória.