quarta-feira, 13 de março de 2013

DE OUTROS


«Um alvoroço de artigos, crónicas, comentários, depoimentos acolheu o prefácio que o dr. Cavaco apôs ao sétimo volume de Roteiros, singular colecção de trivialidades pretendidamente políticas, e não, como o título sugere, itinerário turístico. Quase todos os preopinantes manifestaram perplexidade porque o autor nada dizia de novo. Estranha conclusão. O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso. Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema." Apenas me surpreendeu que tanta gente se sobressaltasse com o chorrilho de bagatelas, e que alguma dessa gente lobrigasse uma grave advertência ao Governo e uma crítica furtiva a Passos Coelho. As vinte páginas do extraordinário texto são o retrato (haja Freud e a nossa paciência!) da insólita personagem que nos coube na vida. Custa-me dizer isto: mas o dr. Cavaco, o que diz e o que não diz, e não faz, estão longe de poder ser levados a sério. Ele, os seus silêncios e as suas evasivas são cúmplices do que nos acontece, desde que foi primeiro-ministro. E a impunidade de que goza é paralela à imensa vaidade que não consegue dissimular com a exposta modéstia grotescamente teatral.
O homem é ressentido e rancoroso.»

Baptista-Bastos
DN