terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

VÁ LÁ SABER-SE PORQUÊ...


Combate à corrupção em Portugal sem progressos

De 13 recomen­dações do Grupo de Esta­dos Con­tra a Cor­rupção do Con­selho da Europa para mel­ho­rar as incrim­i­nações de sus­peitos e a transparên­cia do finan­cia­mento par­tidário em Por­tu­gal, só uma foi implementada
Lis­boa, 11 de fevereiro de 2013
A Direção da TIAC – Transparên­cia e Inte­gri­dade, Asso­ci­ação Cívica, rep­re­sen­tante por­tuguesa da rede global anti-corrupção Trans­parency Inter­na­tional, lamen­tou hoje a reit­er­ada falta de pro­gres­sos na luta con­tra a cor­rupção por parte das autori­dades por­tugue­sas, sub­lin­hada mais uma vez no último relatório de avali­ação do Grupo de Esta­dos Con­tra a Cor­rupção (GRECO). Os resul­ta­dos do recém-publicado relatório de observân­cia das recomen­dações dos avali­adores do GRECO no âmbito da ter­ceira ronda de avali­ação, que incide sobre os pro­ced­i­men­tos de incrim­i­nação e a reg­u­lação e super­visão do finan­cia­mento político, são des­o­ladores: Por­tu­gal só imple­men­tou 1 das 13 medi­das recomen­dadas pelo GRECO; 4 foram par­cial­mente imple­men­tadas e 8 não foram imple­men­tadas de todo.
«Em matéria de com­bate à cor­rupção e de boa gestão de din­heiros públi­cos, Por­tu­gal só cos­tuma agir sob pressão de organ­is­mos exter­nos, como o GRECO, e mesmo assim, de forma relu­tante e sem uma estraté­gia clara. Não há von­tade política e isso começa desde logo, pela total ausên­cia de medi­das conc­re­tas neste domínio nos pro­gra­mas de gov­erno e acaba no total desnorte da justiça. É de lamen­tar que hajam cidadãos a respon­der em tri­bunal pelo crime de difamação – uma ver­dadeira aber­ração jurídica – por se terem insurgido con­tra a pre­potên­cia, o clien­telismo e a inop­erân­cia das autori­dades judi­ciárias, enquanto eleitos con­de­na­dos por crimes de fraude e abuso de poder con­tin­uam no exer­cí­cio de funções em claro desre­speito pelo Estado de dire­ito; é de lamen­tar que ded­i­ca­dos fun­cionários públi­cos se prestem a colab­o­rar com a justiça, denun­ciando a cor­rupção sem qual­quer pro­teção do Estado, ficando a mercê de todo o tipo de abuso na sua vida pes­soal e profis­sional; é ainda de lamen­tar que o cidadão tenha que sofrer todos os aper­tos fis­cais pos­síveis, mas que o Estado não se pre­ocupe em recu­perar os ativos ilíc­i­tos», diz o pres­i­dente da TIAC, Luís de Sousa.
Na área da incrim­i­nação de sus­peitos de cor­rupção, o GRECO tinha feito seis recomen­dações conc­re­tas. Destas, ape­nas uma, rel­a­tiva à for­mação de mag­istra­dos e out­ros oper­adores judi­ci­ais, foi con­sid­er­ada sat­isfa­to­ri­a­mente imple­men­tada. Todas as out­ras, cobrindo questões como o alarga­mento da apli­cação dos crimes de cor­rupção a um maior número de agentes públi­cos, o agrava­mento das sanções por sub­orno e trá­fico de influên­cias e a crim­i­nal­iza­ção do trá­fico de influên­cias em transações inter­na­cionais, não foram de todo apli­cadas. Para a asso­ci­ação, a falta de pro­gres­sos a este nível destrói os avanços que se têm reg­is­tado noutros domínios – de que é exem­plo o aumento de 13,5% no número de inquéri­tos aber­tos por crimes de cor­rupção na Procuradoria-Geral Dis­tri­tal de Lis­boa, recen­te­mente noti­ci­ado. «A exigên­cia de justiça por parte dos cidadãos tem sen­si­bi­lizado o Min­istério Público e trazido maior atenção sobre esta crim­i­nal­i­dade, mas os inquéri­tos serão incon­se­quentes se Por­tu­gal não se ape­trechar con­ve­nien­te­mente para inves­ti­gar, acusar e con­denar os cul­pa­dos de cor­rupção. Recordemos que a média de arquiv­a­mento dos crimes de cor­rupção supera os 50%, isto, é 1 em cada 2 proces­sos é arquiv­ado à nascença», diz Luís de Sousa.
No que toca ao finan­cia­mento político, Por­tu­gal só cumpriu par­cial­mente 4 recomen­dações em 7. Três ficaram por cumprir, nomeada­mente: 1) uma relação mais fre­quente e mais trans­par­ente das receitas e despe­sas de cam­panha durante perío­dos eleitorais; 2) a elab­o­ração de um estudo sobre as práti­cas infor­mais de finan­cia­mento político, em par­tic­u­lar no que con­cerne o paga­mento de despe­sas por ter­ceiros; e 3) o reforço do papel de super­visão da Enti­dade das Con­tas e Finan­cia­men­tos Políti­cos, dotando-a de uma inter­venção mais proa­t­iva em relação aos par­tidos políti­cos. Todas estas medi­das cor­re­spon­dem às pre­ocu­pações e recomen­dações apre­sen­tadas pela TIAC no âmbito do Sis­tema Nacional de Inte­gri­dade. É de lamen­tar que as autori­dades por­tugue­sas ten­ham feito pouco uso do seu conteúdo.
«Esta falta de pro­gres­sos é abso­lu­ta­mente dece­cio­nante. O Gov­erno desculpou-se ale­gando que a pre­sença da troika em Por­tu­gal atra­sou a alter­ação de algu­mas leis recomen­dadas pelo GRECO, porque o Gov­erno e o Par­la­mento estiveram ocu­pa­dos com a imple­men­tação do plano de res­gate. São des­cul­pas de mau pagador – sobre­tudo quando é óbvio para todos que, sem um reforço dos mecan­is­mos de pre­venção e com­bate à cor­rupção, o país con­tin­uará no mesmo ciclo de má gestão de din­heiros públi­cos e nunca saire­mos da crise», diz Luís de Sousa.
A TIAC lamenta ainda que o Gov­erno não cumpra a recomen­dação do GRECO que pede a tradução e disponi­bi­liza­ção pública dos relatórios de avali­ação. «Disponi­bi­lizar estes relatórios online, em por­tuguês, é fun­da­men­tal para esclare­cer os cidadãos e per­mi­tir um debate infor­mado sobre os prob­le­mas do com­bate à cor­rupção em Por­tu­gal. Que nem esta obri­gação ele­men­tar seja cumprida é um sinal do descon­forto com que o Estado por­tuguês tenta evi­tar o debate e a respon­s­abi­liza­ção por tudo o que con­tinua por fazer nesta área», avalia o pres­i­dente da TIAC.
A Transparên­cia e Inte­gri­dade compromete-se a fazer o tra­balho a que o Gov­erno se esquiva, mobi­lizando os seus vol­un­tários para traduzir para por­tuguês o último relatório de avali­ação do GRECO. O doc­u­mento será pub­li­cado no por­tal da asso­ci­ação, nas ver­sões em inglês e português.
TIAC