Portugal colaborou activamente com os voos da CIA
Apesar dos desmentidos oficiais de vários governos, houve mais de 115 escalas em território português
Pelo grau de secretismo do programa da CIA de detenções e “rendições extraordinárias” (rapto de pessoas, sem julgamento, entregues a governos estrangeiros para ser torturadas) de suspeitos de terrorismo, Amrit Singh recorreu a notícias, investigações de ONG e aos documentos de alguns tribunais estrangeiros para compilar o relatório “Globalização da Tortura”. O documento de 213 páginas redigido pela investigadora da Open Society Foundation (organização de defesa dos direitos humanos com base em Nova Iorque) foi publicado ontem e de imediato fez correr tinta nos mediainternacionais. É o primeiro que implica directamente 54 países no programa posto em marcha secretamente pela administração de George W. Bush depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001.
Da lista de países que “cooperaram” com os EUA consta Portugal, ao qual Singh dedica duas páginas do relatório e onde é referido que o país “permitiu o uso do seu espaço aéreo e dos seus aeroportos nas operações de rendição extraordinária da CIA”.
Além de serem identificadas 115 paragens de voos secretos nos aeroportos do Porto, de Santa Maria e na base das Lajes entre 2002 e 2006, o relatório cita as rendições extraordinárias “facilitadas” sob jurisdição portuguesa de Muhammad Farag Ahmed Bashmilah, Salah Nasser Salim Ali Qaru, Hassan bin Attash, Maher Arar, Abou Elkassim Britel e de outros “prisioneiros fantasma não identificados”.
As informações não são novidade, sublinha a eurodeputada Ana Gomes, que em 2007 enviou uma extensa denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o caso, que conduziu à abertura de um processo (encerrado em 2009 por “falta de provas”). “Não há nada de novo neste relatório”, disse ontem ao i, sublinhando contudo que o documento é mais uma prova de que, “tal como os crimes do regime nazi, isto nunca será enterrado”.
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