Há gente séria e patriota em Angola contra a cleptocracia, diz Ana Gomes
O angolano Rafael Marques, jornalista e ativista, foi hoje recebido no Parlamento Europeu. A discussão foi à volta da situação em Angola e da relação deste país com Portugal.
O jornalista e ativista Rafael Marques que investiga há algum tempo os negócios da família de José Eduardo dos Santos foi hoje recebido no Parlamento Europeu pela socialista Ana Gomes, numa iniciativa que teve por objetivo "dar voz às vozes corajosas, aos que têm coragem de denunciar o que está mal e exigir transparência e prestação de contas".
Ana Gomes considera-se uma "amiga de Angola, alguém que em Portugal lutou pela independência de Angola e, como responsável socialista, lutou pela entrada do MPLA na Internacional Socialista em 2003".
Por isso, a eurodeputada considera ter "particulares exigências em relação a Angola e em relação ao MPLA", onde diz que "há muita gente séria e patriota e não quer ficar silenciosa diante da roubalheira que está a ter lugar por parte de uma cleptocracia".
Portugal é a "lavandaria de Angola"
No final da reunião promovida por Ana Gomes sobre a situação em Angola, Rafael Marques afirmou que, noutros países europeus, o tipo de operações que Angola faz em Portugal "não é possível, porque as autoridades reagem imediatamente ao fluxo de tanto dinheiro de forma ilegal. Por isso, é que costumamos dizer que Portugal é a lavandaria de Angola".
O caso dado como exemplo pelo jornalista, cuja denúncia levou à abertura, em Portugal, de um processo-crime e consequente investigação a altos dirigentes angolanos, é a compra de 25% do BES angola por oficiais da guarda presidencial: "Onde é que militares de uma guarda presidencial encontraram 375 milhões de dólares para investir numa empresa portuguesa?", pergunta. Para Ana Gomes, em Angola houve "um retrocesso com a nova Constituição, no que toca ao equilíbrio de poderes e às possibilidades de controlo democrático do executivo pelo Parlamento". No que diz respeito ao papel de Portugal, Ana Gomes partilha a adjectivação de Rafael Marques: "não há dúvida de que este esquema de desregulação, que está na origem da crise na Europa e que vimos também muito consolidado no sistema financeiro do nosso pais, tem permitido que o nosso pais funcione como lavandaria daqueles que desviam dinheiro do desenvolvimento do povo angolano".
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