Li a notícia de olhos boquiabertos e boca semicerrada: o Prémio de Narrativa do Pen Clube foi atribuído ao 'romance autobiográfico' de Rita Ferro "A Menina É Filha de Quem?".
Sabendo que o júri tinha preterido o fabuloso romance "As Luzes de Leonor", de Maria Teresa Horta, decidi ler, pela primeira vez, um livro da já vasta 'obra literária' da precursora da literatura 'light', tão admirada por manicures, pedicures, cabeleireiras, maquilhadoras, tias de Cascais, leitoras da revista 'Caras' e outra fauna feminina frequentadora das 'Docas'.
Decepção total.
O 'romance' não é romance. É um livro de memórias de homenagem ao avô (António Ferro), à avó poetisa, à avó viscondessa, aos pais, tios e irmãos por quem a autora tem uma sanguínea e compreensível admiração.
A prosa é banal e, por vezes, confusa, digna, talvez, de um concurso de jogos florais organizados pela Câmara de Cascais ou pela Junta de Freguesia da Lapa e não mais do que isso.
Confuso, pesquisei os nomes dos jurados de gosto tão estrambólico. Ei-los:
Helena Barbas, crítica do 'Expresso';
Artur Anselmo, velho conhecido dos comentários políticos da RTP marcelista, debitados com ar furioso e digno seguidor de Barradas de Oliveira e Dutra Faria;
Fernando Dacosta, um apaixonado póstumo (?) pela vida e obra do Hortelão de Santa Comba.
Fiquei esclarecido. Há fantasmas que perduram.