quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CENTRO CULTURAL DE SETÚBAL - UMA EVOCAÇÃO


DEPOIMENTO

                        Sem grandes ditirambos porque o espaço é pequeno, escreverei que a fundação do Circulo Cultural de Setúbal (C.C.S.), em 1969, obedeceu a motivações                                                                             generosas de alguns cidadãos do burgo bocageano, entre as quais sobrelevam as de querer desmarcar-se do obscurantismo imposto, da estupidez instituída, do hábito destrutivo, da repetição rotineira e afirmar-se como um posicionamento anti fascista-salazarista-marcelista.
                        Efectivamente o C.C.S. assinalou momentos importantes da e na vida citadina porque, para além de posições assumidamente anti-estado novistas, foi um núcleo de convívio, de realizações culturais e de ministração do Ensino Liceal de que resultou, pelo menos, uma licenciatura em Histórico-filosóficas pela Universidade Clássica de Lisboa.
                        Se bem me lembro, os professores que lá tiveram assento foram o Zeca Afonso, o Dimas Pereira, o Tavares da Silva, o Abílio e mulher, o Jorge Luz e irmão e outros mais que, ao longo de mais de 40 anos, a memória me não traz à tona.
                        Não fui grande frequentador do C.C.S., o que não impediu que me desse e fosse considerado por toda aquela plêiade de gente generosa que me soube distinguir com o seu afecto, o seu apoio e a sua critica!
                        O C.C.S. é, pois, um capitulo da história da cidade, que esta regista e a que faço menção, não apenas pensando e pesando a “chicotada” que deu no marasmo setubalense e que vai na senda das realizações do Ateneu, do Clube de Campismo, do grupo de teatro amador Ribalta mas também é uma atitude genuína de desprendimento e de dádiva aos outros, cuja recompensa foi e é a de acompanhá-los e por eles fazer o que a consciência cívica, a atitude desprendida e a militância das e pelas causas justas e nobres impôs e impõe a quem lá permaneceu e permanece, hoje de maneira diferente mas sempre de cabeça erguida, de mente ao alto e de coração aberto!
                        Na vida tudo se transforma, a sociedade portuguesa mudou-se, malbaratou-se em muitos aspectos e o C.C.S. também deu origem ou vai dar origem a outra instituição, felizmente agora mais alargada (ESPEREMOS!), com menos grilhetas, mais livre, mais justa e mais abrangente.
                        Que os poderes autárquicos instituídos possam compreender que a realidade não é pertença de qualquer um mas traduz a congregação efectiva de convívios culturais variados, heterogéneos, heterodoxos e até de disparidade complexa!
                        Longe, como estou da “cena” Setubalense, auguro que a nova vivência cultural seja a de ir coroando todos os esforços de tantos amigos, uns que já lá vão, outros que ainda permanecem e outros que hão-de chegar e que irão continuar a obra dos primeiros.
                        É esta uma das mais consequentes e meritórias lições que a história geracional transmite como imaterial herança da feitura da cultura!

Daniel Nobre Mendes

http://www.mun-setubal.pt/pt/pagina/casa-da-cultura/260