quarta-feira, 23 de novembro de 2011

NOTÍCIAS DA PIOLHEIRA

Face Oculta: Escutas revelam poder de Armando Vara

A audição de duas escutas marcou o quarto dia do julgamento da Face Oculta, onde se mostra que Armando Vara tinha a capacidade de travar demissões em empresas públicas.

Armando Vara não exercia cargos públicos, mas tinha poder de influência junto de Sócrates. Só assim se explica que Francisco Bandeira, vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos, recorresse ao ex-ministro socialista para travar uma demissão de um administrador de uma empresa pública. Sócrates estava no estrangeiro, mas Vara podia contactá-lo. Como o fez. E desautorizar a secretária de Estado Ana Paula Vitorino. Como aconteceu.

Também não é verdade o que Vara disse ao Tribunal de Aveiro, nos dois dias em que foi interrogado. Designadamente que era absurdo falar-se em demissões nas empresas públicas, a três meses das eleições e a pedido de Manuel Godinho. E que só pensava em assuntos bancários, não tendo qualquer poder na vida política do PS.

Ontem, no Tribunal de Aveiro, duas escutas, relativamente curtas e ouvidas por todos os advogados do processo ‘Face Oculta', deixaram Vara numa situação frágil. O seu advogado não escondia a irritação, recusando-se a explicar as intercepções.

Segundo o CM apurou, nessas escutas, Armando Vara contou a Cardoso dos Reis, então presidente do Conselho de Administração da CP, o que José Sócrates lhe teria dito, a propósito da sua iminente demissão da empresa. "O 1º ministro ficou f... com o assunto. Acho uma loucura completa, ele passou-se dos c...", revelou Armando Vara, garantindo a Cardoso dos Reis que aquele se mantinha no lugar. Assim aconteceu, mesmo depois de Ana Paula Vitorino, então secretária de Estado dos Transportes, ter garantido que o administrador ia sair da empresa. "Ou sais ou aceitas. Não te vou é entalar e deixar nesta situação", afirmou.

As escutas mostram ainda que é Francisco Bandeira quem dá conta a Armando Vara da demissão iminente do responsável pela CP. Pediu ao ex-ministro que tivesse uma intervenção no processo. Vara prometeu falar de imediato com Sócrates.

As duas conversas, que os advogados tiveram ontem conhecimento de forma integral - Armando Vara já tinha tido oportunidade de as ouvir, após a acusação ter sido deduzida -, aconteceram a 18 e a 19 de Junho de 2009, exactamente um dia antes de Armando Vara e Lopes Barreira terem ido a casa de Godinho.

CM