domingo, 1 de maio de 2011

A GARGALHADA DO DIA


«Voltando ao Alberto João. Como o PPD tinha ganho na Madeira as Constituintes, ele achou logo que devia governar. Pediu-me uma audiência e recebi-o. Vinha acompanhado de mais uns dois ou três dirigentes do PPD. Insistiu na ideia, assim de um modo muito imperativo. Tinha que ser o PPD a governar, já!, como era costume falar naquela época. Eu, que por causa das coisas andava sempre fardado, disse-lhe que não era assim e expliquei para que não restassem dúvidas: "Estas eleições não foram feitas para isso que o senhor pretende. E enquanto a República Portuguesa mantiver em cima dos meus ombros a responsabilidade de aqui a representar e em seu nome governar, eu falo e o senhor abana as orelhas. Fiz-me entender?" De imediato pus as mãos no chão, fiquei a quatro, levantei uma perna e pus o pé ao nível do nariz dele e disse: "Caso contrário dou-lhe uns coices para aprender."
Dizem-me que o homem chorou, mas eu não vi. Só reparei que ficou lívido, assustado.
(...)
Também no que toca a militares eu alertei-o para ter cuidado. Mas ele teve aquela triste ideia de dizer que os militares se tinham efeminado, e o Lacerda - eu já não estava na Madeira - fardou-se de ponto em branco, entrou pelo Palácio do Governo, pediu para falar com o Presidente e mal lá chegou, nem sei se tirou a luva, pespegou-lhe um par de lambadas para mostrar que afinal os militares continuavam viris. Era preciso conhecer o Lacerda, que não era pêra doce. A reacção do AJJ, na verdade, não foi famosa: passou para o outro lado da mesa e, ao que dizem, ainda com a mão na cara quente disse ao Lacerda: "Saberá que me vou queixar de Vossa Excelência." Não me parece que tenha sido uma reacção muito viril, lá isso é verdade.»

(Do depoimento do general Carlos Azeredo)