Fui andando e mal me precatê tinha a dita donzela a mê lado, os olhos a furarem-me o pêto e às costas um sinal do destino, ou dum desterro, sê lá bem, ela é fina com'um coral, filha d'home de cá, o Negalho ferrador, e duma barroa qué coxa. Casámos cedo, fiz filhos. Nem quero dezer o que passi prós criar, porque atão ficava p'raqui toda a vida e mais sês meses a benzer a minha sina à Nossa Senhora do Desamparo!...»
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
UM IMENSO ADEUS
«Pedi ò Navalhas que m'ensinasse a ler, no dia em que fali com uma rapariga de olhos mais pretos c'ás azêtonas do Alandroal. Tinha visto terra zangada sem dar pão, o céu carrancudo, sem dar água, os coelhos, os porcos e as galinhas morrerem sem haver por ali remédio c'os salvasse. Um gabiru baxo, com os cabelos de porco espinho e cara de trombeta, tava sempre a rir, chêo de comichões. O caifaz a rir-se, era limpinho, a gente amandava-se tamém às gargalhadas. Foi ele que m'ensinou os passos do puladinho, em companhia dum camurço que tinha fôlgo de gato-maltês, munto despachado, dançarino das sete-quintas, com a balda de contar c'uma árvre que mexe as folhas, é com'um home que mexe os braços. Alto, vareta! Até aí nan vou: uma árvre tem madêra, um home tem carne!