domingo, 23 de janeiro de 2011

PRESIDENCIAIS 2011

Abstraindo o facto, não despiciendo, aliás, de a minha voz ser daquelas que não chegam ao céu, quem sou eu, sim, quem sou eu para dar conselhos a Manuel Alegre?
Andava eu de bibe na escola primária e já ele politicava na faculdade, em Coimbra. Andava eu nos cafés de Beja e Campo de Ourique a sonhar com assaltos ao Palácio de Inverno e já ele, depois de luandense conspiração, se movimentava com à-vontade nos meios dramaticamente intriguistas de Argel. Andava eu armado em parvo nas ruas de Lisboa ‘a defender a revolução’ e já ele estava sentado em S. Bento.
Senhor deste miserável curriculum, quem sou eu, pois, para dar conselhos a Manuel Alegre?
Mas, se por milagre em que a nossa história é fértil, aliás, tivesse sido chamado a assessorar o presidencial candidato, ter-lhe-ia dito: “Não vá por aí!».
Era óbvio, desde o primeiro momento, que a segunda candidatura do poeta à presidência da República, com a estratégia adoptada, estava destinada a um rotundo e estrondoso fracasso.
A rebeldia da primeira candidatura foi substituída pela submissão ao apoio traiçoeiro e fatal da organização do Sócrates. A independência ficou ferida de morte com os agradecimentos ao presidente e secretário-geral da organização do Sócrates, no acto de apresentação pública da candidatura. A campanha eleitoral foi um penoso percurso de contradições gaguejadas à esquerda, ao centro e à direita (com excepção do discurso de encerramento da campanha - que foi bom).
Os resultados estão à vista. Resta a saída de cena pela esquerda baixa e o regresso à poesia.
Venham os versos!