sexta-feira, 12 de novembro de 2010

E, DE REPENTE, NUMA ESQUINA SOMBRIA

E, de repente, longe dos holofotes manobrados por técnicos de marketing, descobrimos numa esquina sombria desta tristeza à beira-mar plantada uma boa razão para umas horas (muitas horas) de profundo prazer: o livro «Uma Viagem à Índia», de Gonçalo M. Tavares.
Dele, diz Eduardo Lourenço no prefácio: «Este prosaico poema, antipoema e hiper-poema, com consciência aguda da sua funcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles.»
Aqui fica para aguçar apetites:
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CANTO I
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11
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É indispensável tornar conhecidas acções terrestres
com o comprimento do mundo e a altura do céu,
mas é importante também falar do que não é assim
tão longo ou alto.
É certo que os Gregos tentaram aperfeiçoar
tanto a Verdade quanto o gesto,
porém as ideias foram de longe as coisas mais mudadas.
Eis pois o momento de colocar a Grécia
de cabeça para baixo
e de lhe esvaziar os bolsos, caro Bloom.
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A ler com carácter de urgência. Mas vagarosamente, se possível, para prolongar o prazer e facilitar a digestão.