sábado, 21 de agosto de 2010

OS VALENTÕES

Não percebem. Os militares não percebem. Aliás, na tropa se diz que é preciso explicar clarinho para militar perceber.
E, desta vez, também não percebem que ao escritor António Lobo Antunes se deve desculpar tudo. E não só pelo seu estatuto de grande escritor, mas, sobretudo, por ter direito à inimputabilidade, uma vez que, segundo o próprio, o que escreve e o que diz é obra divina à qual o mestre António se limita a emprestar a mão e a língua.
Pois bem, mestre Antunes, numa longa entrevista ao jornalista João Céu e Silva publicada em livro, debitou um chorrilho de asneiras sobre os feitos do seu patriótico batalhão na guerra colonial, em Angola. Tive conhecimento da matéria através de correio electrónico de remetente amigo e fechei o dossiê com um brevíssimo comentário: 'Mais um delírio'. E ponto final.
Leio, hoje, com espanto, no 'Expresso': «Um grupo de oficiais na reforma - entre os quais se conta o ex-chefe de Estado-Maior da Força Aérea, Morais da Silva - quer processar António Lobo Antunes por difamação e injúrias. Considerando-se insultados e ofendidos pelo 'chorrilho de infames mentiras' que o escritor usa sobre a guerra colonial, os militares - que cumpriram comissões de serviço em África - admitem mesmo dar 'um par de murros em público' ou 'ir ao focinho' do escritor, que apelidam de 'bandalho' e de 'atrasado mental'.»
Acho bem. Acho muito bem! Os heróicos militares que não podem dar 'um par de murros' a quem os derrotou em África (Nino Vieira e Samora Machel já morreram e Aristides Pereira e José Eduardo dos Santos têm estatuto que os põem ao abrigo de 'golpes-de-mão' retardados) querem vingar-se 'indo ao focinho' do Lobo Antunes.
Ah, seus valentões! Arreiem-lhe depressa que eu não quero morrer sem assistir a tão edificante e patriótico acto.