segunda-feira, 12 de julho de 2010

UM IMENSO ADEUS


«Teresinha conseguira, com a ajuda da mãe Fabiana e de um meio-irmão que acabara de cumprir a sua primeira pena de prisão, levar a Jessica à psicóloga da escola. A sessão não "se saldou pelo sucesso pleno", houve injúrias e ofensas corporais, mas a psicóloga, experiente nos problemas que afectam os adolescentes com problemas, usando o pouco que lhe foi dado observar, e em cooperação estreita com os outros professores da turma, fez um diagnóstico certeiro. A psicóloga albardou a Jessica com a Síndrome de Procrastinação Agravada, condição não incomum em adolescentes e adultos, que afecta o foro motivacional e organizacional. Explicava depois a doutora perante o conselho de turma que as pessoas atingidas por esta síndrome têm dificuldade em priorizar as suas tarefas em função dos objectivos que se propuseram atingir. "Em vez de estudar a Matemática", disse-me a Teresinha, parafraseando a especialista "actividade fundamental para a prossecução das suas metas de vida, Jessica não fica sem fazer nada, porque a síndrome não implica que a pessoa se dedique ao ócio. O que acontece, pelo contrário, é que o doente se propõe várias tarefas e vai escolhendo as que lhe são motivacionalmente mais gratificantes de modo a relegar as outras, mais necessárias, para outra ocasião. Ora Jessica prefere efectuar pequenos furtos na escola ou passar o seu tempo no café a conviver com outros adolescentes, em vez de se dedicar às actividades que lhe exige o seu projecto de vida. Isto tem consequências intrapsíquicas graves (para não mencionar as consequências especificamente judiciais, dado que a Jessica já fez os dezassete anos e é imputável) e daí, dessa inibição organizacional da priorização, surgem a ansiedade, a culpabilidade e a baixa auto-estima, que depois se traduzem em excessiva agressividade e comportamentos em sala de aula que dificilmente favorecem o processo de ensino-aprendizagem."»