segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DE OUTROS




«Quando se exigia uma rápida e total mobilização de vontades e esforços, o senhor presidente relativo do Conselho, o chefe, estava fortemente empenhado numa campanha de salvação do seu próprio escalpe, que incluía uma espectacular reunião da comissão nacional do PS, em que os amorfos e obedientes dirigentes socialistas se deliciavam a ouvir discursos inflamados sobre escutas, indignidades, negócios escuros, boys mais ou menos imbecis e outras coisas extraordinariamente importantes para os destinos da Pátria. Por volta da uma hora da tarde, o senhor presidente relativo do Conselho, o chefe, lá se dignou proferir umas palavrinhas de circunstância sobre a tragédia da Madeira. Mas nem os mortos, feridos e desaparecidos o fizeram mudar de ideias. Rumou a toda a velocidade para o Porto, para mais um comício de apoio à sua brilhante obra e de desagravo aos ataques, campanhas negras, cabalas e outras coisas mais de que o chefe tem sido vítima. O encontro socialista começou pelas cinco da tarde e por essa altura os mortos já ultrapassavam as duas dezenas.»
António Ribeiro Ferreira
CM