quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UM IMENSO ADEUS


«A multidão de desgraçados é tão grande que a cidade, inteira, não os vê; a noite os cobre, os dissimula, os traga. Beberam vinho a mais.
Pela cama espalhados, à matroca (não à matroca, antes pelo contrário, com o meticulado do papel tracejado fininha linha a linha e, sobre tudo aquilo, o candeeiro de tulipa negro apagado - não se ouve um som. Está tudo tão parado e semelhante que, por sobre a colcha da cama grande, mete medo, comparar se pode às filas certinhas do cemitério da minha terra, campa rasa.
Não sei como fazer para retirar definitivamente ao que escrevo, a cor, e o bolor, da forma. Como exprimir, como eu quero, o desencanto? Exemplos outros: a nostalgia, a melancolia, a sensação do fracasso. Ficar-me por aqui, pelas palavras (gastas, batidas, usuais, longe de mitigar sede e cansaço, papel escrito para nada), de que me serve? E, outra vertente do pensar: - inane é repetir. Quero eu dizer: se for eu a usar, incautelarmente, despercebidamente, voluntária ou involuntariamente: as formas dos outros, - que acontece. Puro desperdício. Melhor não pôr remendos, que bom seria a roupa nova! Roupa nova...»