terça-feira, 1 de dezembro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«Na época, aqueles que se afastavam do socialismo soviético estavam condenados a ser «almas nobres», injúria suprema. A alma nobre, neste vocabulário dos «carrascos-filósofos», não era somente a tara do intelectual perdido no sentimentalismo piegas. Era sobretudo a ignorância do pensador medíocre, daquele que não conhecia Hegel, nem a crítica marxista do socialismo utópico; daquele que não possuía o arsenal das armas absolutas: o segredo, o código, o número para decifrar as contradições do capitalismo, o sentido escondido da história e o carácter progressista da violência. Com o dogma defendido pelos sacerdotes no interior de uma Igreja virada para o Vaticano moscovita, deixava de haver lugar para os investigadores angustiados, para os homens da recusa e do presente. A própria dúvida era crime em virtude da sua função desmobilizadora. Servindo objectivamente o inimigo de classe, Camus era umas vezes tratado como um gentil escritor filosofando acima das suas possibilidades, outras como um pastor velando ao serviço da burguesia.»