segunda-feira, 16 de novembro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«De resto, é um contra-senso exigir que os costumes políticos sejam melhores que os particulares. O parlamentarismo não falhou entre nós, por mau regime, mas porque não há fórmulas eficazes para nacionalidades caducas como a nossa.
Conclui-se disto a deliquescência da vida portuguesa, nos seus duplos aspectos da consciência e da moral. Lá começa primeiro uma separação completa e desdenhosa entre os interesses da grossa massa da população, e os da matilha que reparte entre si os dinheiros das rendas públicas, e se crapuliza na porfia escandalosa do poder. Vê-se em seguida a indiferença pública crescer em matéria política, os jornais serem lidos só por passatempo, os actos do governo serem mencionados só como uma variante de anedotas obscenas, a política armar em profissão sem hombridade, em impune chantage, e jornalistas e homens de estado enfileirarem, no conceito geral, logo em seguida aos ratoneiros e aos assassinos.»
.
FIALHO DE ALMEIDA
'OS GATOS'