quinta-feira, 2 de julho de 2009

CINCO ANOS


«Às vezes, calo-me e fico à espera da sua voz, essa voz magnética como um íman que atraísse o mundo, porque nela mesmo o esperado é inesperado. Oiço-a, porque as vozes, mesmo as que partiram, respondem ao chamamento da nossa imaginação e fazem-se presentes contra a distância e o esquecimento. Às vezes, oiço-a dizer poemas que nunca escreveu, pois a morte lho impediu. Esses poemas são feitos das palavras suas que nos deixou - e que agora escrevem a sua ausência. Às vezes, quando o mundo me foge ou eu lhe fujo, quando tudo se parte ou se retrai - é o mundo, outra vez inteiro, que a sua voz me devolve, tal ele devia ser. Porque a voz de Sophia de Mello Breyner está além da sua contingência e aquém da sua eternidade.»
.
JOSÉ MANUEL DOS SANTOS
(EXPRESSO)