segunda-feira, 8 de junho de 2009

UM IMENSO ADEUS

Sabia que daqueles ali morreriam poucos. Alguns ficariam estropiados, cadeiras de rodas, muletas, pernas cortadas, macas, ambulâncias. Sabia que o António Augusto só com grande azar: o lugar prometido era de secretaria - um licenciado. Dois colegas do curso dele não tinham respondido à chamada - Desertores, somados aos refractários. Estavam dentro das previsões e das estatísticas. Faltavam sempre ou dois, ou três.
Vieram logo as cartas - longas e minuciosas. Diariamente. Ela escrevia também. O que era o espírito de caserna? E todos os dias nos jornais procurava os mortos em combate, não para saber se ele tinha morrido, porque as cartas chegavam rápidas e os comunicados oficiais dos mortos não, mas para saber notícias dele e dos terrenos. A guerra não teria fim, «minha querida Ana», só tinha aquela vantagem de transformar pessoas em heróis - a longa distância - em poetas - o amor em palavras. Era outro António Augusto, eles estavam os dois dentro dum livro, dentro dum filme. A guerra era justa? - Era injusta. A guerra tinha fim? - Não tinha fim. A guerra era natural? - Era cruel.
Ela sabia: os aviões bombardeavam com napalm as populações, os homens vivendo entre homens - Missão de Soberania - ficavam gélidos e repugnantes.