domingo, 21 de junho de 2009

DE OUTROS


«Meu pai morreu no dia 6 de Maio de 1959. Escrevo este texto no dia 26 de Maio de 2009. Entre estas duas datas, quase nada aprendi: Deus continua a ser um nome para o sentido, como o é, para muitos, o poder ou a glória; a pátria: um lugar de onde sempre parto e ao qual regresso, para sentir, de novo, a vontade de partir; a morte: a brutalidade de uma ausência de mistério; a escrita: lupa que me permite ver o mundo, mas de onde o mundo está sempre a fugir; a cegueira: essa luz insaciável que cresceu até quase apagar a paisagem; e a história: uma ficção laboriosamente construída.
Carregamos todos a mesma pobreza: nascemos, crescemos, lutamos, amamos e vamos morrer. Alguns reinventam cada etapa e assim constroem uma biografia: tornam-se heróis, criminosos ou santos; outros, colados ao mundo, só têm o tempo para sobreviver. E, dessa sobrevivência, morrem.
A biografia é um privilégio.»
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RUI NUNES
(JL)