«A ilusão, aliás, é a de pensarmos que o desabar dos grandes impérios inaugura uma nova fase da história, quando não é mais do que o caminho aberto às matástases do império. A hipótese mais provável é que não estamos perante um desaparecimento, mas sim perante uma disseminação do império em todos os microimpérios locais, provinciais, territoriais. É a mesma homologia do pormenor e do conjunto que existe no holograma: o espelho do império está quebrado, mas cada fragmento conserva a sua imagem. Os grandes sistemas desmembrados (aliás, isso ainda não terminou, aguardemos o fim do império americano e o fim das nações «históricas») encontram forma de se perpetuarem de outro modo, não por filiação dinástica, como antigamente, mas por desmultiplicação fractal, de certa maneira, por cissiparidade: microimpérios, microditaduras, microautarquias, que contêm em si, em miniatura, todos os estigmas e vícios do império.»