quinta-feira, 12 de março de 2009

SEI LÁ SE É LITERATURA


A coisa faz dez anos e vai estar disponível na internet. Um acontecimento com notícias, entrevistas, promoções, marketing. O editor diz que «'Sei Lá' retrata o dia-a-dia de uma geração que dificilmente assume compromissos e não sabe fazer escolhas e que, por isso mesmo, se sente permanentemente insatisfeita.»
E insatisfeito também eu andava pelo facto de ignorar o conteúdo da coisa de que tanto se falava. Resolvi comprar e ler e, assim, fiquei a saber: a autora trabalhou em marketing, não tem conflitos graves com a gramática, definiu um mercado-alvo, confeccionou o produto e comercializou-o.
Saíu uma coisa que é uma 'espécie de magazine' (Lux, Caras, Maria, Nova Gente) sem bonecos, um fresco das Docas e da sua fauna.
A malta gostou e fartou-se de comprar. E entre uns 'shots', umas ervas e uns pós, lá foi lendo a coisa. Um êxito. Duzentos mil como a 'Crónica Feminina'. Nada de grave, antes pelo contrário: o povo deixou de ser iletrado e hoje não há casa sem uma biblioteca de, pelo menos, trinta centímetros com coisas de Margarida Rebelo Pinto, Fátima Lopes, Cristina Caras-Lindas, Carolina Salgado e muitas outras (e outros) que andam por aí a produzir 'obra', isto é, a obrar.
E deixo aqui o meu reconhecimento às 'Docas' e às suas gentes 'permanentemente insatisfeitas'. É justo assinalar que de lá saiu uma geração de romancistas, um secretário de estado da kultura que ouvia concertos de violino de Chopin, um presidente de câmara muito dado a revistas parque-mayereanas, até um primeiro-ministro correspondente de Machado de Assis.
Obrigado, 'Docas'. Abaixo os contentores!
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PM