quarta-feira, 13 de agosto de 2008

OLÍMPICOS ESPÍRITOS

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Sabe-se agora que os chineses, mais uma vez, burlaram o mundo ou, para sermos mais rigorosos, burlaram três mil milhões de tele-espectadores fazendo passar por actuação ao vivo o que, afinal, era play-back. Juntaram a cara, tida como perfeita, de uma criança com a voz, também ela tida como perfeita, de uma outra criança que não podia aparecer nas televisões por ter os dentes desalinhados. Para justificar a fraude, um responsável do chamado partido comunista chinês disse: «Quisemos projectar uma imagem perfeita, pensámos no melhor para a Nação».

Daqui não resultou nada que afecte seja quem for. Um ligeiro sentimento de corneação, uma gargalhada geral e assunto encerrado. Contrariamente a essa outra monstruosa burla, também ela perpetrada com imagens perfeitas e a bem da Nação, a revolução cultural, que fechou a contabilidade macabra com um saldo de sessenta milhões de mortos.

Também da delegação portuguesa nos chegam notícias: um judoca português derrotou um brasileiro e no fim declarou que havia 'assuntos pessoais pendentes' e que o deixou 'humilhado no tapete', declarações que evidenciam um olímpico déficit de 'fair play'. Dizem os jornais que 'os assuntos pessoais pendentes' se relacionavam com questões de corneação.

Mais uma tarefa se impõe ao Comité Olímpico Português: explicar muito bem aos atletas a diferença entre uma arena olímpica e a arena do Campo Pequeno.

PM