segunda-feira, 21 de julho de 2008

FAITS DIVERS

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É sabido que as «Relações Internacionais» existem sem grandes preocupações éticas. Em muitos países (em Portugal, por exemplo) os ministérios que delas se encarregam são mesmo denominados de «Negócios Estrangeiros». E no mundo dos negócios a ética é um conceito de valor desprezível.

É corrente vermos um estadista impoluto (espécie em vias de extinção como o lince da malcata, mas da qual também existirão, em todo o mundo, meia-dúzia de exemplares) cumprimentar um cleptocrata, um «Prémio Nobel da Paz» cumprimentar um genocida. Umas palavrinhas de circunstância e já está.

Dizer: «Temos confiança no governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido, o que tem permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados» como disse, há dias, José Sócrates é ir muito para além das palavras de circunstância e atingir o elogio subserviente.
(Remorsos de ex-colonizador? Preço do barril de petróleo? Tudo junto e algo mais?).

Organizações como a Transparency International, Human Rights Watch, Amnistia Internacional consideram Angola um dos países mais corruptos do mundo e esta última, no seu relatório de Setembro de 2007, entre outras coisas pouco abonatórias das práticas do poder angolano, afirma: «Um facto que preocupa seriamente a Amnistia Internacional é que o poder legislativo não tenha adoptado legislação que proíba e penalize claramente a tortura, os maus tratos e outros tratos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes».

Para um país «dos mais reputados» não está nada mal. Ou devemos considerar «faits divers» a corrupção e todo o tipo de atropelos aos direitos humanos e, então, perceber melhor as palavras do nosso (salvo seja) primeiro-ministro?

PM