segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

DE OUTROS

O nojo que sai à rua impunemente

por FERREIRA FERNANDES
Há meses, numa rua da minha cidade, vi um jovem humilhado. Levava uma corda ao pescoço e ajoelhava-se quando lhe ordenavam que o fizesse. Não era uma representação teatral, via-se que o ajoelhado não podia ter escolhido outro papel. Era mesmo uma humilhação. E, no entanto, segui. E, no entanto, nenhuma relação humana mais me fez expor, mudar de vida e sofrer consequências do que humilhação de homem ou de mulher. Já tenho idade que me aconselharia a calar perante um daqueles cenários públicos que, não sendo comuns, acontecem, de um homem agredir uma mulher e nunca, nunca a deixei sozinha. E, no entanto, se naquele dia, na minha cidade, em vez do rapaz de baraço fosse uma rapariga de joelhos a mimar um ato sexual, eu seguiria também em frente. É, a grosseria e a violência das praxes académicas - é disso que falo - são tão tolas que nos levam a encolher os ombros, não a indignar-nos... Com isto quero dizer que para com essas praxes somos todos mais ou menos cúmplices, dos dux veteranorum aos críticos. Era bom pensarmos nisso, agora que tantos jornais dizem que a tragédia do Meco poderá ter tido como origem praxes académicas. Sugerem-se responsabilidades de um jovem, o sobrevivente, apesar de ele só ter de dar explicações, mais nada. Responsabilidade têm as universidades, as autoridades académicas, os pais, os estudantes e os transeuntes, como eu, que não disseram o que deviam ter dito perante um nojo: que, aquilo, é um nojo.
DN