A novela das escutas e outras vigilâncias seria apenas ridícula se não fosse grave, muito grave.
Vejamos: se a vigilância de S. Bento a Belém existe ou existiu realmente, o caso é gravíssimo e só pode ter como consequência a demissão do sucessor do almirante Pinheiro de Azevedo. Se, pelo contrário, se trata de uma inventona de Belém, o caso é gravíssimo e deve levar à renúncia do sucessor do almirante Américo Thomaz.
Bom, de qualquer modo e em boa verdade, a farsa montada e em exibição, é um espectáculo triste que se deve à pobreza do guião e à falta de talento dos actores.
Com efeito, a dimensão dos actores recomendaria a atribuição de outros papéis: a cavacal figura não deveria ter ido além de um lugar de regedor na freguesia de Poço de Boliqueime; ao ideólogo do socialismo sem caroços nem grainhas, ficaria bem um posto de caixeiro numa loja de plásticos, em Vilar de Maçada, acalentando o sonho de chegar a balconista da 'Fashion Clinic'.
E, já agora, aos actores secundários também deveriam ser atribuídos novos papéis: a vizinha Manuela deveria estar a cartear uma valente canasta com a tia Cilinha Supico Pinto, trauteando o hino 'Angola é Nossa'; o director do 'Diário de Notícias' faria de engraxador, no Rossio, em frente do extinto café 'Paço' a gritar crónicas dos jogos de futebol do Atlético e do Oriental; o director do 'Público' apareceria, neocon e anafado, a imitar o Ramiro Valadão e a escrever editoriais para o jornal da paróquia da Zona 'J' de Chelas e ao Lima dos jornais atribuir-se-ia o papel de ardina a apregoar os 'Ridículos' à porta dos 'Pastéis de Belém'.
Vá, digam lá, uma comédia assim não era muito mais gira?