Mas verdadeiramente preocupante é a rapidez com que o discurso populista, outrora relegado para as margens, conseguiu infiltrar-se no centro político. Carlos Moedas, no discurso de 5 de outubro, ao associar a imigração de “portas escancaradas” à desordem, abraçou o simplismo brutal da extrema-direita — como se, ao nomear o medo, pudesse neutralizá-lo.
Na tentativa de captar votos, Moedas cedeu ao cálculo mais rasteiro: vestir o manto da moderação enquanto valida, de forma sub-reptícia, a linguagem da exclusão.
Foi esta mesma ilusão que levou Miguel Pinto Luz a pedir a intervenção de Pedro Passos Coelho no Algarve, na esperança de ressuscitar as suas previsões eleitorais. O antigo primeiro-ministro aproximou-se do discurso fácil da extrema-direita, atreveu-se a colar a imigração à criminalidade, piscou ambos os olhos à horda populista, numa espécie de pragmatismo moralmente falido que troca a substância por uma performance vazia. O resultado foi um desastre anunciado. No dia 10 de março, o PSD, longe de conquistar terreno, viu-se relegado para terceiro lugar. E único distrito conquistado pelo Chega foi, ironicamente, o de Miguel Pinto Luz.
Maria Castello Branco
Expresso