terça-feira, 19 de setembro de 2023

RAMSÉS VIII & COMPANHIA

Justiça seja feita, foi esta direita elitista que exibiu com eficácia o lodaçal em que vivia um primeiro-ministro que se tentava apresentar com as vestes austeras do velho ditador: Dias Loureiro, Duarte Lima, Arlindo Carvalho, Costa Freire, Oliveira Costa... As capacidades de avaliação ética de quem o deveria rodear, uma das qualidades fundamentais para um líder, são mais uma vez evidentes na pessoa que escolheu para apresentar o seu livro, que até em Bruxelas conseguiu ficar mal visto por não ter cumprindo o período de nojo politicamente recomendável para se apresentar ao serviço na Goldman Sachs.

A imagem que Cavaco Silva passava de si nunca bateu certo com as suas companhias. Mas era mais do que isso. A forma como lidou com o escrutínio ao seu próprio comportamento nunca mudou. Em 2011, perante o regresso da acusação de que Oliveira Costa lhe teria vendido, fora de bolsa, ações da SLN a um euro (um mês depois eram vendidas aos clientes do BPN por 2,1) para dois anos depois lhe recomprar a 2,4 euros, garantindo, a si e à sua filha, um lucro de 147,5 mil euros e de 209,4 mil euros, respetivamente, disse: “façam as investigações que quiserem, publiquem tudo, que talvez depois de dia 23 (data das eleições) eu possa ler.” O homem que dizia que uma pensão de nove mil euros mal dava para as despesas estava-se nas tintas.

Daniel Oliveira

Expresso