domingo, 1 de maio de 2022

"O PCP PERDEU A HONRA"

Eu acho que o PCP se meteu num buraco. E quem está dentro do buraco não vê nada à volta. E mais: está a agravar o buraco por um processo que nós sabemos que é psicológico, político, começou com uma argumentação apesar de tudo mais moderada e agora vai tendo uma argumentação cada vez mais radical, incorporando cada vez mais a propaganda russa. E isso é muito mau para o PCP e para a vida política democrática em Portugal. Qual é o grande erro estratégico e político do PCP? É que sabendo quem é o Putin, tem feito um esforço para não se colar ao Putin, mas a verdade é que isso resulta como uma espécie de hipocrisia, porque nunca tem em conta quem começou a guerra e quem é o outro lado.

Antevê um impacto grande em termos eleitorais?

Vai ter, sem dúvida. O que se está a assistir é a uma radicalização do PCP, principalmente dos mais novos. Os setores neste momento mais radicais, pró-russos ou os que mais justificam a invasão da Ucrânia, são os mais novos. Os mais velhos já viram muita coisa.

Há um desconhecimento da História?

É não só um desconhecimento da História, como deixarem-se encurralar numa ideia de anti-imperialismo que só tem um lado. Não tenho dúvidas nenhumas que a militantes mais velhos, que têm mais experiência, que já viram muita coisa, têm inclusive em alguns casos a experiência antes do 25 de Abril, isto os incomoda e muito. Agora, há uma parte dos militantes do PCP à qual isto não incomoda nada, pelo contrário. É o "orgulhosamente sós". E nem sequer perceberam que há aqui um problema de honra perdida. O PC perdeu a honra, porque o PC tinha uma linguagem patriótica, muitas vezes até nacionalista, uma linguagem contra a União Europeia que tinha elementos soberanistas. É difícil manter uma linguagem desse género quando se aceita uma invasão sem nenhum motivo sério, imediato, provocatório da Ucrânia. Isto cria um desgaste enorme no PCP, que se soma depois à decadência que já existia no plano eleitoral. A perda de influência no sistema político português não afeta só os militantes, nem a direção do PCP, afeta por exemplo o mundo sindical.

J. Pacheco Pereira  (JN)

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