segunda-feira, 9 de março de 2020

OS MERCENÁRIOS DO ÓDIO

"Os mercenários do ódio procuram o poder incentivando as pessoas a revoltarem-se contra um qualquer inimigo comum. Os fiéis contra os hereges. Os mais claros contra os mais escuros. Os de cá contra os de fora. Os do norte contra os do sul. Os do interior contra os do litoral. Os das ilhas contra os do continente. Os mais novos contra os mais velhos. Os funcionários públicos contra os do privado. A lista não acaba.
Os mercenários do ódio não querem saber da Constituição. Não querem saber de justiça, muito menos de solidariedade. Não querem sequer saber daquilo que defendem hoje - se der jeito, amanhã defenderão outra coisa. O que importa mesmo é o seu próprio poder - ou o daqueles a quem obedecem. Explorar os sentimentos de injustiça virando uns contra os outros é apenas o meio para o conseguir. A receita é antiga.
A resposta aos mercenários do ódio não é o ódio aos mercenários. É a afirmação da vontade de viver numa República baseada na dignidade da pessoa humana. Numa sociedade que não deixa ninguém para trás. A vontade de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Esta vontade, que é popular e soberana, é o maior valor de Portugal."
Ricardo Paes Mamede
Economista e Professor no ISCTE
DN