quinta-feira, 3 de março de 2016

O FIM TRÁGICO DOS JORNAIS

Há dias, a técnica de higiene e limpeza que trabalha cá na barraca fez-me um pedido extravagante: pediu-me para lhe dar os jornais que já tivesse lido. Achei extravagante porque, nela, os sinais exteriores de amor pelas letras não são perceptíveis. Aliás, até já lhe tinha pedido para não arrumar os livros, depois de limpos de pó, com as lombadas para dentro e lhe tinha feito notar que não tinha gostado de ver, por manifestamente inestético, os meus sapatos pretos arrumados na prateleira destinada ao Fernando Pessoa & Companhia, entre o Bernardo Soares e o Álvaro de Campos.
Perguntei se os jornais eram para o senhor Costa (o senhor Costa é o 'espouso' da técnica de higiene e limpeza que trabalha cá na barraca). A senhora gargalhou, primeiro, e depois respondeu: "Não, não. São para a minha cadelinha fazer as necessidades, de noite, num canto da cozinha".
Esclarecido, achei por bem dar-lhe informações complementares e disse-lhe: "Olhe, diga à cadelinha que neste maior escrevem a Filomena Mónica, o Henrique Raposo e a Clara Ferreira Alves; neste acinzentado, escrevem o João César das Neves e o António Barreto; neste amarelado escrevem o Vasco Pulido Valente e o Miguel Esteves Cardoso. O bichinho há de gostar de saber..."