Depois de ter comprado empresas portuguesas altamente endividadas, bancos descapitalizados, operadores de telecomunicações muito promissores, elétricas de grande potencial e grupos de comunicação em dificuldades, depois de receber mais de 8000 empresas portuguesas e mais de 150 mil portugueses no seu país, depois de, por causa de uma investigação judicial, ter visto o poder político português ajoelhar-se aos seus pés e do poder judicial pedir-lhe desculpa, eis que o dinheiro angolano parece ter chegado a um dos pilares da democracia. O caso do ex-procurador Orlando Figueira, detido por indícios de corrupção relacionados com uma investigação ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que o procurador acabou por arquivar, é inquietante; e se se provar que o Banco Privado Atlântico Europa, onde Figueira tinha a conta por onde passou o dinheiro suspeito, não reportou esse movimento ao Banco de Portugal, então pode concluir-se que o poder económico angolano já se sente à vontade para atuar por cá como no seu país: sem quaisquer freios.
Nicolau Santos (Expresso)