quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DE OUTROS

«Num dos seus mais estimulantes livros de ensaios literários, Le Commerce des Classiques, Claude Roy cita Montesquieu: "Não há nenhum desgosto que uma hora de leitura me não console." Talvez resida algum exagero neste testemunho. Mas a paixão da literatura, o regalo de ler, a alegria da descoberta de uma frase bem boleada, estabelece uma cumplicidade entre autor e leitor difícil de explicar.

O melhor de nós é construído através dos livros; dos encontros, por vezes imponderáveis, que se fazem, casualmente, nas páginas honestas impressas em corpo 10 redondo. Tive um professor, Emílio Menezes, gramático distinto e consumidor entusiasta de clássicos, que dizia exortar muito bem o espírito dormirmos com, pelo menos dois livros à cabeceira. Ficou-me, para sempre, a recomendação, multiplicada por dezenas.

Claude Roy, outra vez: "A literatura não deve ser a arte desprezível de pensar noutra coisa; ela deve ser, ela é, a arte admirável de pensar mais profundamente, mais validamente as coisas." O ruído que por aí se escuta, o falazar insidioso de quem não tem nada para dizer, mas vai dizendo, é sinal da época e sintoma de vazio. Para nos precavermos desta agressão sem pausa, para nos resguardarmos das afrontas que nos provocam estes políticos sem brio, sem honra, sem ideias de seu, e sem gramática, recomendo uma visitação àqueles que se definiram por tentar definir-nos.»

Baptista-Bastos

DN