segunda-feira, 23 de agosto de 2010

DIREITOS E FOCINHOS

Já aqui disse e agora repito: o que António Lobo Antunes disse sobre os feitos 'heróicos' do seu batalhão, em Angola, só pode ser classificado de uma maneira - puro delírio.
Os oficiais que, indignados, querem processá-lo por difamação estão no seu pleno direito. Aliás, nem sequer serão originais: o hortelão de Santa Comba, num tempo em que a PIDE era dirigida por um oficial do Exército, também processou criminalmente o escritor Aquilino Ribeiro por ter publicado o romance "Quando os Lobos Uivam".
O que não é admissível num Estado de Direito é que um grupo de oficiais queira 'ir ao focinho' de António Lobo Antunes num acto primitivo, teoricamente, destinado a lavar a honra dos briosos soldados. Aliás, também estes não são originais: já em 1969, em plena campanha 'eleitoral' destinada a legitimar a primaveril 'democracia' marcelista, um grupo de legionários, num tempo em que a Legião Portuguesa era dirigida por militares do quadro (é sempre bom recordar estes pequenos pormenores), agrediu violentamente o escritor Urbano Tavares Rodrigues.
'Os tempos eram outros', pode dizer-se. Pois pode. Mas deve acrescentar-se: 'E é bom que não voltem'!