sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O SOL E AS SOMBRAS

"Quando é que o PCP sai para a rua para condenar Putin por colocar o mundo perto de um conflito nuclear? Silêncio. Nem pensar. Seria “fazer o jogo da NATO”. Eu percebo-os. Não tenho dúvidas de que a última coisa que desejavam era esta guerra, porque o PCP e os seus companheiros de estrada sabem que ela teve o efeito contrário ao pretendido, não vai acabar bem para Putin e a probabilidade de ter sido o balão de oxigénio de que a NATO precisava verifica-se todos os dias. Por outro lado, neste contexto, não querem que Putin perca de forma muito evidente e clamorosa. Duvido que apoiem a escalada belicista de Putin, mas também os incomoda muito a eficaz ofensiva ucraniana. É um mecanismo não só político, mas também psicológico, daquilo que tanto pode ser interpretado como comportamento dos indivíduos quando se metem numa argumentação sem saída e, em vez de a corrigirem, sobem de tom e caminham ainda mais para o abismo. O mesmo para aquilo a que antes se chamava “psicologia de massas”. Ou seja, estão metidos num imbróglio que não tem saída feliz, mas que tem um ponto forte: não querem que a Ucrânia ganhe. Não o podem dizer, mas é exactamente isso que desejam, de desejo forte, inominável, feio."

José Pacheco Pereira
Público