domingo, 15 de março de 2020

PUBLIQUE-SE!


Francês, escritor, fascista, 'collabo', misógino, chulo (ou melhor, tratando-se de um intelectual francês : beneficiário permanente de mecenatos femininos), eis Pierre Drieu la Rochelle.
Escreveu poesia,teatro, romances, ensaios e um diário dos anos 1939-1945, anos de guerra, de ocupação da França, período rico em grandezas e baixezas. Drieu, como é conhecido, escolheu sempre o lado das baixezas. Até ao fim. 
Escrito em prosa não filtrada, o 'Diário', editado em 1992, só depois da morte do irmão do escritor, a quem tinha sido confiado, além de nos mostrar o retrato sem retoques de um ser absolutamente asqueroso, é um documento imprescindível para a compreensão de um curto mas importante período da história da França. 
E a que propósito vem este assunto à colação? Vem a propósito da autobiografia de Woody Allen cuja publicação alguns querem evitar. Woody Allen é um génio? É um canalha? Acumula? Que cada um diga de sua justiça, mas a proibição do livro só pode ter um nome: censura. 
Podem crer: se o diário de Pierre Drieu la Rochelle não tivesse sido publicado, teria sido prestado um bom serviço aos canalhas do presente. Que são muitos, estão entre nós e ainda não há muito tempo estiveram num governo de indignidade nacional. 
Venha, pois, o livro de Woody Allen. As contas fazem-se depois. Sem censura.