domingo, 16 de outubro de 2016

DE OUTROS

Forte de Peniche e a amnésia da democracia

Há uns anos, a Câmara Municipal de Lisboa permitiu que a sede da PIDE fosse transformada num condomínio privado. Ao fazê-lo apagou um rasto da PIDE e contribuiu, mesmo que involuntariamente, para o branqueamento da nossa história. Não basta saber que houve pessoas torturadas e assassinadas por uma polícia política, é preciso que haja provas físicas desse facto histórico. Agora é a vez do Forte de Peniche ser concessionado para atividade hoteleira. Preservar e dar mais visibilidade a este símbolo da repressão e da ditadura não é apenas um dever que temos para com aqueles que a sofreram de forma mais direta. Corresponde a uma necessidade do regime fixar a sua identidade democrática. Sem símbolos não há memória, sem memória não há passado, sem passado não se aprende nada e nada se é. A identidade de um País não é uma coisa natural, espontânea. Resulta da forma como a sua história é recordada. E a memória precisa de símbolos. Se a nossa se construir quase em absoluto em torno dos descobrimentos e da “lusofonia”, mais não faremos do que repetir o imaginário que o Estado Novo alimentou. Como a identidade de uma Nação se faz por camadas de narrativas oficiais e populares, ficamos pouco apetrechados para defender a nossa jovem democracia. Sobra a grandeza da pátria, falta a sua liberdade

Daniel Oliveira
EXPRESSO