sábado, 12 de março de 2016

RAPOSO, O CÓMICO

Henrique Raposo, o tal reaccionário que eu 'conheço' das colunas do 'Expresso' e que escreveu recentemente um livro abjecto a que deu o título "Alentejo Prometido", a páginas tantas tem este desarrincanço cómico: "Manel [o avô do Henriquinho] tinha ainda o hábito de levar lá para casa os camaradas da taberna que comiam a comida reservada para a minha mãe e tios. Este hábito até atingiu um pico cinematográfico: certo dia, acolheu um maltês que havia fugido da prisão. À tardinha, o homem chegou ao monte e entrou de imediato na galhofa com Manel, que deu ordens à mulher, "mata uma galinha para o jantar". Mordendo a boca de raiva, Joaquina lá fez o jantar com a preciosa galinha enquanto Manel aprendia a atirar com o revólver do bandido, sem nunca se aperceber do medo estampado no rosto dos filhos. O maltês manjou a galinha com o revólver pousado na mesa, dormiu no casão, acordou, comeu outro manjar raro ao pequeno almoço (ovos e linguiça frita), saiu e foi roubar um rebanho de ovelhas numa herdade vizinha." E para completar a anedota, na SIC Radical, o Henriquinho acrescentou que o maltês, depois, foi vender o rebanho na feira de gado da aldeia.
E tudo isto se passou no meio de gente que "além de desconfiar dos vizinhos, do Estado e da Igreja, desconfia da própria família." Mas, desta vez, para bem ilustrar a vigarice do Henriquinho, ninguém desconfiou. Nem sequer a Guarda Republicana que sempre vigiou de perto as feiras e outros ajuntamentos no Alentejo.
A história não tem pés nem cabeça - um maltês era homem para roubar um borrego, nunca um rebanho, e ia cozinhá-lo e devorá-lo na primeira oportunidade e bem escondido, nunca vendê-lo numa feira, nas barbas da Guarda. Bom, mas sempre serve para entreter as 'tias' da pastelaria 'Benard', numa tertúlia de chá das cinco, antes da missa das seis na igreja da Nossa Senhora dos Mártires, essas 'tias' para quem 'maltês' designa apenas aquele lulu amaricado, o 'bichon', espécie de caniche de pêlo liso que frequenta colos e salões de madames e bichas decadentes.
Oh Henrique, meu raposinho, nesta fase difícil da minha vida, deprimido pelo afastamento do Cavaco e do Portas, só tu me farias rir. Obrigado, pois, pelo teu descaramento e pela reconfortante e cinematográfica aldrabice.