Portugal tem nova PIDE
A nossa polícia secreta é uma PIDE adaptada a um regime democrático.
Em qualquer país com uma democracia desenvolvida o que se passa há anos com os serviços secretos portugueses chegaria para as instituições tremerem, para os media não largarem o assunto, para rolarem cabeças. Em Portugal, porém, nada. Os serviços secretos espiaram um jornalista; essa acção foi institucional e não marginal: Jorge Silva Carvalho confirmou em tribunal e acusou o chefe das secretas, Júlio Pereira, de ter participado na decisão. Este negou. Carvalho disse também que as secretas têm desde sempre "fontes de informação em todas as operadoras de telecomunicações", que 90% da acção das secretas "é ilegal" e que elas usam "meios claramente ilegais", como "vigiar pessoas no espaço público, fotografá-las, filmá-las". A actividade é decidida pelas chefias.
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Que as secretas tenham espiões é o que se espera. Mas as nossas secretas cospem na Constituição e espiam os concidadãos ao serviço de interesses obscuros, certamente políticos. Os serviços secretos portugueses são também, portanto, uma polícia política. Não prendem e torturam, como a PIDE, mas vigiam portugueses por causa da sua profissão, das suas fontes, das suas opiniões. Destroem pessoas por meios que não a prisão e a tortura. Nesta actividade ilícita, a nossa polícia secreta é, assim, uma PIDE adaptada a um regime democrático. Esta nova PIDE está ao serviço de interesses que desconhecemos, embora desconfiemos.
Eduardo Cintra Torres
CM