OPINIÃO
Vítor Silva Tavares & etc
ALEXANDRA LUCAS COELHO
2. Houve uma era, já depois do Paleozóico, em que existiram editoras e livrarias em Portugal. Não conglomerados com modelos de negócio género 25 por cento de desconto nas novidades porque é Natal, terra da fraternidade (e já agora isso acaba com os derradeiros independentes), mas editoras e livrarias uma por uma seguindo o seu caminho. É verdade, isto aconteceu mesmo. E os jornais tinham cadernos literários. E chegavam cartas escritas à mão. E uma por outra vez na vida essas cartas traziam um manuscrito do Vitor Silva Tavares (sem acento agudo, que ele não usa).
3. (Ele diria cartinhas, porque nisso é como os mexicanos: folhas brancas, caneta preta, uma letra quase escolar de tão legível, nos antípodas dos hieróglifos de Eduardo Lourenço, que também mandava manuscritos para a redacção do PÚBLICO, mas por fax, um artefacto da época.)
4. Um manuscrito do Vitor é um suplemento de ferro, tomem lá, ó esquálidos. Qualquer textinho lhe sai uma beleza, como se saísse assim da boca dele, pardal de muita conversa e muito livrinho. Em suma, o mais antigo editor paralelo em Portugal é toda uma língua. Paralelo, e não alternativo, porque uma editora paralela nunca se encontra com as outras, faz o seu caminho ao lado. No caso do Vitor, ao lado e subterrâneo. Não é uma metáfora, é uma morada: & etc, Rua da Emenda, 30, cave 3.