Quem matou o Labour?
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES15 setembro 2 015
A chegada de Jeremy Corbyn à liderança do Partido Trabalhista britânico tem sido comentada de modo sombrio em quase toda a Europa como sendo o fim do Labour. Parece-me que, mais uma vez, se comete a habitual confusão entre causas e consequências. Na verdade, o desaparecimento do "socialismo" como alternativa ao neoliberalismo na Europa, em particular nos seus dois países centrais - o Reino Unido e a Alemanha - é muito anterior, e os autores de semelhante crime político "andam por aí", em plena liberdade. Tony Blair, um dos mais agrestes críticos de Corbyn, destruiu não só a identidade do Labour como partido defensor do Estado social e de maior igualdade como foi cúmplice de um dos mais vis crimes contra a humanidade cometido neste século: a invasão do Iraque por G.W. Bush, que desencadeou uma reação em cadeia de que a "crise dos refugiados" é, parcialmente, um vivo exemplo. Já Gerhard Schröder, o empregado de Putin que governou a Alemanha entre 1998 e 2005, pode ser considerado como o pai da austeridade e de uma competição desleal sem limites entre Estados dentro da zona euro. Sob a batuta de Schröder, milhões de pensionistas alemães foram iludidos pela privatização parcial da segurança social (Riester-Rente, de 2002), o trabalho foi precarizado pelas Leis Hartz, a disparidade social aumentou de tal forma que, pela primeira vez na história, a Alemanha se transformou num país mais desigual do que a França. Não, o bizarro ciclista Corbyn não tem as mãos ensanguentadas. Ele limita-se a ser o médico legista que assina a certidão de óbito do trabalhismo, liquidado por Blair e associados. É provável que com a eurofobia inglesa que aí vem a Escócia retome com ímpeto a agenda da independência. Perdida nos campos de batalha em 1746.
Viriato Soromenho Marques
DN