Alemanha recusa dar mais tempo à Grécia
O Governo alemão voltou hoje a rejeitar os apelos gregos para terem mais tempo para implementarem reformas, sublinhando que "tempo é sempre dinheiro".
O ministro da Economia alemão, Philipp Roesler, rejeitou hoje ceder aos apelos da Grécia para ter mais tempo para implementar as reformas económicas.
Roesler, o vice-chanceler alemão, defendeu que a Grécia tem de se restringir ao plano desenhado no acordo de resgate alcançado com os credores.
O primeiro-ministro grego disse sexta-feira à chanceler alemã Angela Merkel num encontro em Berlim que o seu país precisa de "tempo para respirar" antes de fazer todos os cortes orçamentais e reformas necessárias.
No entanto, Roesler insistiu hoje numa entrevista de televisão que "tempo é sempre dinheiro".
EXPRESSO
(O dever de memória:
A Alemanha devia pagar as suas obrigações à Grécia, há muito em dívida
No Verão de 1940 Mussolini, apercebendo-se da presença de soldados alemães nos campos petrolíferos da Roménia (um aliado da Alemanha), considerou isso um sinal perigoso da expansão da influência alemã nos Balcãs e decidiu invadir a Grécia. Em Outubro de 1940, a Grécia foi arrastada para a Segunda Guerra Mundial pela invasão do seu território. Para salvar Mussolini de uma humilhante derrota, Hitler invadiu a Grécia em Abril de 1941.
A Grécia foi saqueada e devastada pelos alemães como nenhum outro país durante a ocupação alemã. O Ministro Alemão da Economia, Walter Funk, assumiu que a Grécia sofreu as atribulações da guerra como nenhum outro país da Europa.
À sua chegada, os alemães começaram a saquear o país. Apropriaram-se de tudo o que necessitavam para a sua estadia na Grécia e despachavam para a Alemanha tudo aquilo a que conseguiam deitar a mão: alimentos, produtos industriais, equipamento industrial, mobiliário, objectos artísticos provenientes de colecções valiosas, pinturas, tesouros arqueológicos, relógios, jóias, e até os puxadores das portas de algumas casas. A produção completa das minas gregas de pirites, minério de ferro, crómio, níquel, manganésio, magnesite, bauxite e ouro foi enviada para a Alemanha. James Schafer, um executivo do petróleo americano que trabalhava na Grécia, resumiu a situação: “Os alemães estão a saquear tanto quanto conseguem, tanto abertamente como forçando os gregos a vender em troca de marcos de papel sem valor, emitidos localmente” (Mazower p.24). Mussolini queixou-se ao seu ministro dos negócios estrangeiros, o conde Ciano: “Os alemães roubaram até os cordões dos sapatos aos gregos ” (Ciano p.387).
O saque completo do país, a hiperinflação gerada pela impressão descontrolada de Marcos de Ocupação pelos comandantes locais alemães e o consequente colapso económico do país provocaram uma fome devastadora. Para além de alimentar os 200000 a 400 000 soldados de ocupação do Eixo estacionadas na Grécia, o país foi forçado a fornecer os que estavam envolvidas nas operações militares no Norte de África. Frutos, vegetais, gado, cigarros, água e até frigoríficos foram enviados do porto grego do Pireu para portos líbios (Iliadakis p. 75). A Cruz Vermelha Internacional e outras fontes estimaram que entre 1941 e 1943 pelo menos 300 000 gregos morreram de fome (Blytas p. 344, Doxiadis p.37, Mazower p.23).
A Alemanha e Itália impuseram à Grécia somas exorbitantes como despesas de ocupação para cobrir não apenas os custos de ocupação mas também para suportar os esforços de guerra alemães no Norte de África. Como percentagem do produto nacional bruto, estas somas foram muito superiores aos custos de ocupação suportados pela França (apenas um quinto dos que foram pagos pela Grécia), Holanda, Bélgica, ou Noruega. Ghigi, o plenipotenciário italiano na Grécia, disse em 1942, “A Grécia está completamente exaurida” (Mazower p. 67). Num acto de abuso de poder, as autoridades de ocupação forçaram o governo de Tsolakoglou a pagar indemnizações aos cidadãos alemães, italianos e albaneses que residiam na Grécia ocupada por prejuízos, presumivelmente ocorridos durante as operações militares. Os cidadãos italianos e albaneses receberam somas equivalentes a 783 080 dólares e 64 626 dólares, respectivamente! (Iliadakis p. 96). A Grécia, que foi destruída pelo Eixo, foi forçada a pagar a cidadãos dos seus inimigos por alegados danos que não foram provados.
Para além das despesas de ocupação, a Alemanha obteve à força um empréstimo da Grécia (empréstimo de ocupação) de 3500 milhões de dólares. O próprio Hitler conferiu carácter legal (inter-governamental) a este empréstimo e deu ordens para começar o processo de pagamento. Depois do fim da guerra, na reunião de Paris em 1946, foram atribuídos à Grécia 7100 milhões de dólares (dos 14000 pedidos) como reparações de guerra.
A Itália pagou à Grécia a sua quota-parte do empréstimo de ocupação, e tanto a Itália como a Bulgária pagaram as reparações de guerra à Grécia. A Alemanha pagou as reparações de guerra à Polónia, em 1956, sob pressão dos EUA e do Reino Unido; pagou também reparações de guerra à Jugoslávia em 1971 (para aplacar Tito e evitar que ele aderisse ao Bloco Soviético). A Grécia exigiu o pagamento da Alemanha em 1945, 1946, 1947, 1964, 1965, 1966, 1974, 1987, e em 1995 (após a reunificação da Alemanha). Antes da unificação da Alemanha, utilizando o acordo de Londres de 27 de Fevereiro de 1953, a Alemanha Ocidental evitou o pagamento das obrigações decorrentes do empréstimo de ocupação e das reparações de guerra, usando o argumento que nenhum “tratado de paz final” tinha sido assinado. Em 1964, o chanceler alemão Erhard prometeu o pagamento do empréstimo após a reunificação da Alemanha, que ocorreu em 1990. A revista alemã Der Spiegel escreveu, em 23 de Julho de 1990, que o acordo “Dois-Mais-Quatro” (assinado entre as duas Alemanhas e as quatro potências mundiais EUA, URSS, Reino Unido e França), ao preparar o caminho para a unificação alemã, fazia desaparecer o pesadelo dos pedidos de reparações que poderiam ser exigidos por todos os que tivessem sido prejudicados pela Alemanha, caso tivesse sido assinado um “tratado de paz”. Esta afirmação do “Der Spiegel” não tem nenhuma base legal, mas é um reconhecimento dos estratagemas usados pela Alemanha para recusar um acordo com a Grécia (ver também o “The Guardian” de 21 de Junho de 2011). A mesma revista, em 21 de Junho de 2011, cita um historiador económico, Dr. Albrecht Ritschl, que aconselha a Alemanha a tomar uma atitude mais moderada na crise europeia de 2008-2011, uma vez que poderia enfrentar renovadas e justificadas exigências de reparações.
Texto de petição que circulou na 'Net' em finais de 2011)