Desde que me conheço (e já lá vão muitos anos) que ouço falar em raças.
Lembro-me, perfeitamente, daquelas vacas gordas (e isto em tempo de vacas magras) de "raça charolesa" e do sucesso que tiveram nas passerelles das feiras de gado.
Lembro-me, perfeitamente, dos cães de "raça pastor alemão" aos quais, injustamente, se associava uma certa intolerância aos judeus, homossexuais, comunistas e ciganos.
Lembro-me, perfeitamente, de uma colecção de cromos das "raças humanas" e das dificuldades que tive para completar o álbum - naqueles envelopes pequeninos de três cromos nunca me saía aquele preto (como não sou racista, vou alterar) nunca me saía aquele cidadão do mundo, de origem africana, que esticava o lábio inferior até nele conseguir introduzir um prato.
Lembro-me, perfeitamente, do dia da "Raça" com comendadores vivos e heróis, por vezes, mortos.
Lembro-me, perfeitamente, de, então, chamar a um algarvio reaccionário "algarvio de má raça".
Só não me lembro por que razão me lembro disto, hoje.