sexta-feira, 11 de março de 2016

A HISTÓRIA REPETE-SE

Baldaia, o Paulo, jornalista com ar de parolo e de discurso sempre viscoso e sabujo, cruzou-se com Marcelo. E para a posteridade deixou o documento:
"Quando se começa o dia assim, descendo a Calçada da Estrela e ouvindo um cumprimento do Presidente que vai tomar posse, fica-se embevecido e perde-se a noção de que se é jornalista sempre. Foi o que me aconteceu. Tinha Marcelo Rebelo de Sousa ao meu lado, sorridente, trocando cumprimentos, e não fui capaz de pegar no telefone e entrar em direto na minha rádio."
(...) 
"Falhei como jornalista, mas ainda bem que falhei."

Li e fiquei emocionado. Mas também fiquei com a ideia de que já tinha visto qualquer coisa parecida, em qualquer lado. Procurei nos meus papéis e descobri um registo que fiz quando, nos finais de 1970 ou no princípio de 1971 (não posso precisar), jovem aspirante no "1" de Infantaria da Amadora, fui destacado para uma guarda de honra ao Américo Thomaz e ao Marcelo Caetano, na inauguração da estátua do Carmona. 
Escrevi então:  'Quando se começa o dia assim, marchando no Campo Grande  e ouvindo um cumprimento do Presidente que vai inaugurar a estátua do Carmona, fica-se embevecido e perde-se a noção de que se é antifascista sempre. Foi o que me aconteceu. Tinha Américo Thomaz ao meu lado, sorridente, trocando cumprimentos, e não fui capaz de pegar na pistola 'Walter' e despejar-lhe o carregador no bucho.
Falhei como antifascista, mas ainda bem que falhei.'

Oh, Baldaia, como eu te compreendo...