terça-feira, 14 de abril de 2015

DE OUTROS

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
OPINIÃO

Até onde queremos saber?

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUESHoje
A conferência de imprensa dos advogados de José Sócrates coincidiu com a intensificação do caso BES, alargado à Suíça, e com uma crescente contestação na rua dos lesados. De acordo com Pedro Delille, o seu cliente usaria os envelopes carregados de dinheiro do seu amigo Santos Silva por não "confiar" nos bancos. Afinal, o homem que como primeiro-ministro nunca pareceu hesitar em intervir na administração e nas guerras internas dos bancos seria, no fundo do coração, um Bakunine anticapitalista. Por outro lado, o inquérito parlamentar ao caso BES revelou a ruinosa iliteracia de Ricardo Salgado (baralhando, arrogantemente, "mil milhões" com "biliões"...) e da corte de pequenos e médios figurantes amnésicos à sua volta. A defesa de José Sócrates, sem prejuízo do princípio da presunção de inocência, parece tornar cada vez mais credível a possibilidade de o país ter tido à frente do governo, durante seis anos, alguém sem qualificações éticas ou substantivas para o cargo. Ricardo Salgado e José Sócrates não atuaram sozinhos. Chefiaram redes de poder e compromisso com ramificações partidárias e económicas transversais. A sua ação foi acompanhada por dezenas de coautores diretos. A pergunta que devemos fazer não é a de saber se alguma vez estes homens dirão tudo o que sabem. A pergunta correta é a de saber quantas pessoas e forças estão interessadas em garantir que eles permaneçam em silêncio. E nós, os cidadãos comuns, estaremos em condições, até psicológicas, de suportar toda a verdade? Teremos a coragem de arcar com todas as consequências se se confirmar que, afinal, a nossa democracia foi impotente para impedir que o nosso sistema político e económico tivesse sido capturado por inimigos do interesse público?
DN