terça-feira, 16 de outubro de 2012

DIVULGAÇÃO


Painel «As editoras e o seu património: preservar, disponibilizar e divulgar como medidas urgentes» 

11.º Congresso da Associação Portuguesa dos Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas

Fundação Gulbenkian, 18/X/2012, sala 2, 14-16h, http://www.bad.pt/11congresso/
(coordenador: Daniel Melo, Centro de História da Cultura, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 
Universidade Nova de Lisboa, daniel.melo@fcsh.unl.pt) 

Nas últimas décadas, multiplicaram-se as iniciativas de salvaguarda dos espólios de editoras com
relevante interesse cultural, sobretudo em França, Reino Unido, EUA, Itália, Espanha e Brasil. Tal deveuse em especial ao esforço de centros universitários, além de algumas entidades associativas e particulares.
Entre todos estes destacam-se o Institut d'histoire du livre (Lyon, 2001), a Reading University Library
collections, o Scottish Archive of Print and Publishing History Records (SAPPHIRE), a SHARP: Society
for the History of Authorship, Reading and Publishing (desde 1991), o Centro di Ricerca Europeo Libro
Editoria Biblioteca (Milão), a Fundación Germán Sánchez Ruipérez (desde 1981), o Instituto de Historia
del Libro y de la Lectura (da Fundación San Millán, 2000) e o LIHED/ Grupo de Pesquisa sobre Livro e
História Editorial no Brasil (Rio de Janeiro, 2003).
A preservação dos arquivos de casas editoriais tem  sido acompanhada pelo estudo da
documentação e pelo colmatar das suas lacunas através da produção de novas fontes históricas, por via de
entrevistas. São os casos do arquivo de história oral do SAPPHIRE (desde 1998), disponibilizando na
internet entrevistas a empregados do sector editorial escocês; do Book Trade Lives (1997-2006), um
programa de registo de testemunhos de editores realizado pela British Library Sound Archive e com apoio
mecenático da National Life Stories; e do American Printing History Association’s Oral History Project,
para recolha de testemunhos de agentes seniores da edição norte-americana. Ainda nos EUA, a Columbia
University é a entidade detentora do maior número de arquivos de editoras, além de dispor de
depoimentos gravados de editores no maior e mais antigo programa de história oral, que recua a 1948.

Neste particular, Portugal encontra-se muito atrasado: não há ainda uma entidade pública que
assuma a responsabilidade pelo acolhimento, tratamento arquivístico e disponibilização para consulta
condicionada dos espólios destas casas de cultura que são as editoras, embora a Torre do Tombo possa vir
a ser um destino possível (caso reforce os seus recursos humanos), à imagem do Museu do Neo-Realismo
(Vila Franca de Xira), que em 1998 acolheu parte do espólio das Edições Cosmos (através de protocolo).
Os mecenas escasseiam neste área, e são poucos os privados já sensibilizados para cooperar activamente,
em termos logísticos, financeiros, etc. (mas José Pacheco Pereira é uma excepção que merece
seguidores). Assim, quando uma editora (ou uma livraria antiga, ou um alfarrabista, ou...) fecha portas,
fica em perigo o seu rico arquivo: por espartilho entre vários donos (perdendo a sua coerência), por falta
de condições adequadas de preservação da documentação, por interdição do seu acesso público (mesmo
que condicionado). Perde-se assim a oportunidade de salvaguardar fontes indispensáveis para o
conhecimento da edição e dos agentes do livro, sua história, memória e património cultural.
O presente painel propõe-se reunir representantes do mundo da edição e da cultura em Portugal
para se pensar como preservar e divulgar a memória e o património (arquivístico, documental, artístico,
etc.) das editoras. Propomos dois desafios aos oradores deste painel:
1) de entre os meios que consideram mais eficientes para a salvaguarda, tratamento e
disponibilização dos arquivos, quais abraçaram ou estão dispostos a abraçar (por ex., tratamento
arquivístico, a título particular ou em cooperação; produção de exposições temporárias; criação dum
Museu da Edição, para preservação de espólios e produção de mostras e catálogos; divulgação de
documentos ou textos evocativos da acção editorial  na internet, em espaços próprios ou cooperantes;
concessão de entrevistas a estudiosos);
2) debater modalidades de cooperação institucional  entre editores, Estado central, autarquias,
associações profissionais, universidades, fundações, mecenas privados e outros, com vista à preservação,
tratamento e acessibilidade dos arquivos das editoras, para fins de estudo (científico ou outro) e
divulgação cultural (exposições, catálogos, informação na internet), independentemente do arquivo
continuar na posse da entidade produtora (ou de herdeiros particulares) ou passar para a guarda dum
serviço de arquivo (estatal, de instituições de utilidade pública ou de beneméritos).
Para debater este tema estará João Alvim (presidente da APEL e administrador da Bertrand e
Círculo de Leitores), João Corregedor da Fonseca (da Seara Nova), José Pacheco Pereira (coleccionador,
bibliófilo e divulgador via sites Ephemera e Estudos sobre o Comunismo) e o editor-livreiro José Antunes
Ribeiro (da Ulmeiro, Assírio & Alvim, Livrarte, entre outras). Haverá período de debate aberto à
audiência, onde apelarei a intervenções doutros especialistas, como o Henrique Barreto Nunes, exdirector da Biblioteca Pública de Braga e actual dirigente da APBAD.
DANIEL MELO