segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UM IMENSO ADEUS


Meu Alentejo-Poema
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Meu Alentejo-semente,
Poema de mar sem fim,
Tão real, sempre presente,
Vivendo dentro de mim...
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Minha terra abençoada,
Quadro-matriz d'aguarelas,
Nenhum pintor foi capaz
De tornar-te Vida, em telas!...
Porque não há sol nascente
Como o teu raiando esperança,
Nem iguais azuis de céu,
Tecendo às vezes um véu,
Sobre os campos d'abastança...
Nem poentes ouro-cinza,
Vermelhos, almiscarados,
Enchendo os olhos, inteiros,
Como aqueles que, sem cessar,
Vão morrendo, devagar,
Por detrás dos teus outeiros...
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Só aí se inventam túberas
Por baixo dos chaparrais
E papoilas enamoradas
Jurando amor nos trigais...
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Os castanhos branco-rosa
Da terra feita pousio
Lembram manta de retalhos,
Que à chegada dos trabalhos,
Aconchega e mata o frio...
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Cambiantes variados
De olivedos vigilantes
Sonham a Luz, mitigados,
Crentes em Futuros-Passados
D'eternidades distantes...
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Por entre faias e choupos,
Estevas e rosmaninhos,
Disfruto, com avidez,
Melodias que, talvez,
Vão chorando os passarinhos!...
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Como as barrinhas das casas
-Azul-céu, amarelo-sol,
O meu pensar ganha asas
E roça o fumo e as brasas
Nas chaminés em farol...
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Percorro vales e montes,
Os barrancos e os caminhos;
Busco alívio em tuas fontes,
Mas é no branco dos "montes"
Que enterro os meus espinhos...
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Abro trilhos no meu penar
À noite, quando me deito,
E sinto o vento a passar
Pelas frestas, e o luar
Que vem raiar no meu leito...
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Quando surge a escuridão,
O brilho do céu estrelado
Inunda o meu coração
Que morre na solidão
Da cidade, magoado...
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Abraço de terra e mar,
Beijo em seio da Natureza,
Bago místico-ouro-gema...
Só Deus te pôde inventar,
Meu Alentejo-surpresa,
Meu Alentejo-poema!...