sexta-feira, 3 de setembro de 2010

DE OUTROS

«A Guardian tornou públicas as pressões de Tatcher sobre Gorbachov a quando da greve dos mineiros ingleses. Ao que parece, os sindicatos soviéticos estavam disponíveis para ajudar financeiramente os grevistas ingleses. Sem independência face ao poder político, acabaram por ceder. A greve durou um ano e foi o mais duro confronto entre os conservadores britânicos, pioneiros da vaga liberal na economia europeia, e um dos mais fortes movimentos sindicais do Mundo. Foi ganha pelos primeiros. Com ajuda, já agora, do general Jaroselsky, ditador polaco que tratou de garantir o fornecimento de carvão ao Reino Unido.

Neste confronto estava em causa muito mais do que as questões concretas que preocupavam os mineiros ingleses. Era um confronto entre o Estado Social que vigorava no Reino Unido e o neoliberalismo. Era um confronto entre o capitalismo industrial em decadência e o capitalismo financeiro que acabou por se impor. E era a jogada de vida ou morte do sindicalismo europeu.

São dezenas de filmes a retratar essa greve histórica. Um ano de resistência é obra. E só sindicatos com a pujança que os ingleses então demonstravam podiam ter chegado tão longe. Mas Thatcher percebeu o que estava em causa. Não cedeu um milímetro. E venceu.

Faltou, não aos sindicatos soviéticos, meras correntes de transmissão do poder, mas aos da Europa ocidental terem percebido o mesmo. E terem-se mobilizado para apoiar financeira e politicamente os que se encontravam na linha da frente daquela derradeira batalha. Não perceberam o que estava em causa. Cada um estava a tratar de si. E a derrota dos mineiros ingleses, com a ajuda do fim do Mundo bipolar, marcou a decadência do sindicalismo europeu. E com ele, a decadência da esquerda em geral, e da social-democracia e do trabalhismo europeu em particular.»
Daniel Oliveira
'Expresso online'